Em Busca do Produto de Sucesso - Parte 9 - Case ATM Adattis (3)
Todo ano, no mês de junho, acontece a CIAB (a maior feira de tecnologia da informação para o setor financeiro). É onde os principais fornecedores de tecnologia em software e hardware apresentam suas novidades para os bancos e empresas do setor.
Não é todo ano que uma empresa desenvolve um Caixa Eletrônico do zero, pois é um produto de ciclo de vida longo e que não costuma demandar uma renovação anual. Porém, a Itautec percebeu que era o momento de inovar e criar um ATM totalmente novo, com novos conceitos e inovador. Assim, aproveitar a maior vitrine do setor, era uma ótima estratégia.
E assim foi. Na CIAB de 2007 o ATM Adattis foi apresentado ao mercado. Era o momento da Itautec mostrar todo seu potencial e, ao mesmo tempo, receber o feedback dos clientes.
Foi uma ótima feira para a empresa, pois os clientes ficaram muito interessados no produto. NA verdade, não só on clientes. Todos os concorrentes, também.
Os funcionários no stand diziam que viam e ouviam os concorrentes passando e comentando sobre o produto; um deles teria dito: "olha isso. ferrou".
Fazia anos que algum dos players não trazia algo inovador como o ATM Adattis e o retorno visto na feira animou toda a equipe. Todos estavam de parabens!
DIFERENCIAIS DO ATM ADATTIS
Até o ATM Adattis chegar, os concorrentes tinham equipamentos parecidos, mas nenhum deles tinha tudo em um só com apenas 60 cm de largura.
Dentro da mesma base (mecânica, eletrônica e design) ele conseguia atender diferentes perfis de cliente; desde um banco, até um cassino.
Pode parecer pouca coisa, mas não é. Para atender a necessidade de cada tipo de cliente, foi necessário considerar que em um certo espaço poderia ir uma grande diversidade de módulos.
O Banco Itaú usa um tipo de módulo dispensador de notas, um cassino usa outro.
Além disso, o que mais chamou atenção é que era possível acomodar 5 cassetes de notas. O padrão de mercado era para, no máximo, 4. Quando maior o número de cassetes, maior a flexibilidade o banco tem em sua operação e menor custo também, pois o intervalo entre reabastecimentos aumenta. E esta é uma das operações mais caras ao banco.
A modularidade também foi bastante elogiada, pois isso possibilitava o cliente substituir peças quebradas ou fazer upgrades com muito mais rapidez e em campo (sem tirar o equipamento da agência).
Outras pequenas inovações também vieram, tais como: espelhos retrovisores para maior segurança. Câmeras duplas para registro de usuários e ações criminosas, luminoso de funcionamento/ fora de serviço etc.
A ATUAÇÃO DO DESIGNER
É claro que o designer não é o único responsável pelo sucesso do produto, mas ele teve sua responsabilidade no projeto.
Neste momento, olhando apenas para a atuação do designer no projeto, suas responsabilidades foram de:
- Entender o que era proposto
- Reunir o maior número de informações relevantes aos produto
- Entender o funcionamento de todos os módulos envolvidos
- Conceituar e criar a melhor modularidade dentro do cenário proposto
- Garantir a viabilidade de todas as configurações
- Atender os requisitos de segurança ao fazer o design de painéis e locais de acesso (tais como leitora de cartão e saída de dinheiro)
- Atender em sua plenitude as normas de acessibilidade NBR 15250 (brasileira) e ADA (americana)
- Criar um design que mostrasse tecnologia e inovação, mas tendo longevidade.
Agora, essas ações acima só foram possíveis por conta da integração feita com os stakeholders.
Não seria possível entender o que era proposto de forma plena e reunir todas as informações relevantes se não tivesse sido feito um trabalho junto a área comercial, a de produto e aos gerentes de projeto.
Impossível entender o funcionamento dos módulos, em seus detalhes, se não houvesse contato com a área de mecanismos e da área de integração de módulos.
Garantir que o design atendesse requisitos de segurança sem falar com projetistas, eletrônicos e pessoas co experiência em campo seria algo impensável. Eles sabem coisas que você nem desconfia que existe. Os bandidos são muito habilidosos, tem muita imaginação para inventar um truque novo. Então é preciso saber o que acontece de fato, não apenas o que sai no jornal vez em nunca.
MEU OLHAR DO RESULTADO
Se o designer tem o mérito de ter conseguido colocar no mercado um produto de sucesso, pois conseguiu resolver todas as equações do projeto e chegou em um desenho que resume isso, ele não pode esquecer que isso só foi possível porquê outras pessoas contribuíram.
Então, se o trabalho do designer é resultado de seu próprio esforço, mas também do esforço de outros profissionais, então o seu trabalho não só lhe pertence. O trabalho do designer pertence também à outros.
Eu nunca teria equacionado sozinho as mais de 40 configurações dentro dos limites dimensionais do produto e demais requisitos do projeto. Parecia uma tarefa impossível. Na verdade, sozinho, seria.
Quem ganhou a aprovação do design fui eu, mas, na verdade, compartilho ele com todos os envolvidos. E os agradeço demais. Sem as trocas que tivemos durante todo o processo, algum produto poderia surgir, mas não seria esse. Não seria um produto que atendesse 100% dos requisitos e expectativas do projeto.
Obrigado à todos os meus companheiros de trabalho. Nós conseguimos!
O ATM Adattis começou a ser vendido para o Banco Itaú-Unibanco no ano seguinte ao seu lançamento. Atualmente é o principal caixa eletrônico do banco e existem mais de 10.000 unidades em campo.
Ele também foi vendido para clientes no Uruguai, em Moçambique e México está até hoje (data deste post) no portfólio da empresa, a qual, hoje em dia, se chama OKI Brasil
Este foi o último post sobre o Case do ATM Adattis dentro da série sobre metodologia.
No próximo post começo um outro case, o da Catraca Retrofit, produto desenvolvido para as academias Smart Fit. Neste case você verá como a mesma metodologia pode ser aplicada em um projeto de produto quando se é um designer prestando serviço a um cliente.
Gostou do post? Assine nossa newsletter e fique atualizado com todas as novidades!
